Resenha Crítica sobre o Artigo "Seis Razões para Pensar" de Boaventura de Souza Santos


Seis Razões para Pensar

Resumo: “Seis Razões para Pensar” é o tema de uma palestra do Cientista Social Boaventura de Sousa Santos, na ocasião, uma comemoração de aniversário de uma empresa brasileira. Em sua apresentação, Boaventura destaca que o tema é uma questão complexa por ser aplicada a sociedade moderna, e defende que o pensar está em estado de transformação. Em sete sub-temas, o professor universitário levanta uma questão responde-a com seis respostas manifestando suas ideias sobre o assunto.


Situação Complexa, Pergunta Simples

Problemática levantada sobre a pergunta: “Por que Pensar?” Segundo Boaventura não há resposta exata para essa pergunta, apenas, aproximações. Contudo, para alguns cientistas a auto-reflexibilidade é um meio utilizado pelas pessoas para pensar: relatividade com fatos, análise e avaliação, por exemplo.  Mas, isso não pode ser generalizado porque o pensar está em processo de transformação que é dividido em dois lados: Construtores e destruidores, e sofredores.
Construtores e destruidores do pensar é aquela parte da sociedade que não possui tempo para pensar, são atarefadas, vivem as atualizações mundiais constantes e qualquer assunto além do rotineiro os atrapalharia. E, sofredores é o outro lado pertencente à maioria da população que lutam para sobreviver, motivo pelo qual, sua preocupação pelas necessidades básicas impede de pensar, refletir e relacionar os fatos, acontecimentos e suas próprias decisões.
Por essas razões, Boaventura afirma que o pensar está em mutação. Cabendo a cada uma a responsabilidade de escolher a melhor maneira de pensar.

Um Outro Pensamento

Boaventura alega que se precisa de outro pensamento para ligar o que se pensa atualmente. Esse nexo necessita estar de acordo com o tempo para o pensamento obter resultados positivos. Caso contrário a noção contemporânea é perdida implicando na desvaliação do que pensa. Pensar para o tempo, e diferente do tempo para se criar algo que o tempo não aponta. Isso é chamado por Boaventura de período de transição porque nada do que se pensa tem regras e não existem métodos para pensar. Assim, é a primeira resposta da pergunta.

A Lucidez Indispensável

Parte daí a segunda resposta para a questão por que pensar? Desconsidera o pressuposto de auto-reflexibilidade individual e adota-se às ideias coletivas. Para cada movimento social coletivo há mobilização e ação. Ambas munidas de lucidez. Para mobilizar-se a um determinado grupo o indivíduo depende de suas razões pessoais.
Ressalta Boaventura que para um grupo ou movimento unir e buscar seus objetivos deve-se fazer uma análise entre seus interesses e o tempo, a política e a moral atual, porque devido o fato da busca de interesse através de apelos ocorre-se conflitos com a verdade. Onde, as incansáveis lutas através de opiniões coletivas transformaram-se rigorosas modificando o que seria de fato verdade. Esse episódio não é saudável para o senso comum e nem para a ciência pelo motivo que não há nada definido sobre o pensar e todos os pensamentos devem estar em conjunto e não em conflitos. Boaventura conclui esse pensamento que as opiniões sociais e suas reivindicações devem estar em consonância com a política e a moral.

Por uma Nova Ciência Social

Para considerar e manter o pensamento em estado de transição, e que este caminha ao lado bom para a sociedade é necessário que a ciência e/ou o cientista social seja objetivo e ao mesmo tempo neutro. Objetivo por assumir sua idéia e opinião e neutro por não alegar que é incontestável e infalível, aceitando a realidade da transição.
O cientista social deve se pautar em vários conhecimentos para criar um mais instrutivo, e ser eclético aceitando e contribuindo com as diversas manifestações da sociedade, bem como, respeitar e pregar as diferenças entre elas.
Uma das principais funções do cientista social apontada por Boaventura é a identificação do que falta na sociedade que é de grande necessidade para a mesma, porque tudo o que a população precisa torna-se um direito. “No desarmar essa armadilha reside à negatividade do pensamento crítico neste momento.” Com essas palavras o cientista social responde a segunda pergunta.

Pensar Alternativas

 Alternativas contra o a estagnação do pensar: melhorar e criar maneiras melhores à vida; criar meios que implicam a criação de alternativas, e; ampliação do conhecimento. Define a terceira resposta.
Dois conceitos são destacados: “o possível é mais rico que o real” e “ainda não”. Respectivamente dos filósofos, Prigogine e Aristóteles, e Ernst Bloch. Ambos trazem a ideia da possibilidade de fazer ou acontecer e a esperança da realização. Desvia da aceitação absoluta da realidade e dos pensamentos atuais e leva a condição de protagonista da possível mudança. Isso pode ser considerado inatingível, todavia, a ciência social busca reverter esse conhecimento.

Pensar não é Tudo

Boaventura defende a quarta resposta dizendo que, “pensar não é tudo, porque além de agir nós temos que criar formas de pensamento que sejam mais acolhedoras às emoções, ao corpo, aos afetos, aos sentimentos.” Justifica a necessidade das emoções do ser humano para sua sobrevivência, com destaque a duas delas: medo e coragem. Chamado por Boaventura de corrente fria e corrente quente.  Usa-se a coragem para avançar, agir e lutar. E, o medo para retrair, analisar e avaliar.  Fatores que devem ser de medidas favoráveis a propiciar e desencadear o pensamento e transmiti-los em realidade.

Lucidez e Autonomia

Os pensamentos não implicam em resultados claros. Quinta resposta da pergunta. Por mais persistente que seja a luta, sempre os resultados serão contorcidos. Até mesmo na ciência a não averiguação dessas variáveis passam despercebidas. As ações das lutas sociais devem ser observadas estrategicamente suas consequências, as arestas devem ser reparadas para focar o objetivo sem prejudicar a verdade e a moral.
Caminhando para finalização, Boaventura dá sua sexta resposta dizendo que, deve pensar porque não deliberamos tal feito para outro pelo fato de os pensamentos alheios pode não ser aproveitáveis ou verdadeiros. Outro motivo é o fato da democracia dar a liberdade de pensamento. Liberdade esta que está sendo sufocada pelo comodismo e, que deveria estar ativa pela busca da igualdade e reconhecimento das diferenças. A sociedade deve ser forte e tomar iniciativa de pensamento na intenção de criar da própria sociedade um Estado social.
Boaventura conclui a palestra defendo que o pensamento é necessário independentemente de suas colocações a realidade, mas que devemos ser aptos ou pelo menos tentar aplicá-los a ação e fazer diferença porque somos seres iguais, porém diferentes.  

Conclusão

 Complexa a ação de desvendar o pensar que pode ser considerado um mistério que a teoria da Evolução, de Darwin, a teoria do Big Bang e, nem mesmo as teorias da Bíblia que tentam explicar a origem do ser humano conseguiram explicar as definições do pensamento. As respostas de Boaventura apontam motivos e caminhos para melhor pensar e não responde de maneira lúcida a principal questão.
A respeito dos dois lados da sociedade apontados, existe e de forma bem definida, porém, aceitando o conceito de outro pensamento motivador para pensar, ambos possuem esse nexo. O que não caracteriza a divisão de pensamento: construtor e destruidor. De certa forma todos pensam construtivamente seja para sobreviver ou para se apoderar do capitalismo. Segundo o filósofo Kierkegaar, para não pensar é preciso pensar e decidir que não vai pensar, de qualquer modo, é pensar.
René Descartes em sua mais bela frase pronunciada diz, “Penso, logo Existo” (Gaarder, 1997). Não significa que existir se exemplifica no pensamento. Ele diz que pensar faz valer nossa existência, tomar decisões planejadas para viver. Byrne (2007) desafia parte da realidade e atribui as ações e desejos ao pensamento, denominado força da atração. Onde, tudo o que deseja basta apenas pensar, e pensar muito. Em contradição, Gungor (2007) apresenta sua opinião alegando que por traz dessa convicção do pensamento positivo existe um ser sobrenatural, denominado Deus, que controla e age sobre os pensamentos. Já para Boaventura, não basta apenas pensar, tem que agir e sentir. Esse conjunto implicará em feitos prós e contras à sociedade.
Os pensamentos relacionados com o tempo têm suas vantagens, entretanto, não pode ser generalizado porque a auto-reflexibilidade, defendida por Boaventura apenas no âmbito coletivo, leva a relação e análise com tempos passados para tomar as decisões mais cabíveis e viáveis diante das diversas situações. E, para ter sucesso e proveito no pensamente o mesmo deve estar direcionado ao futuro. Assim, a relação entre passado, presente e futuro deve ser cuidadosamente analisada, tanto pessoalmente quanto coletivamente no momento de criar decisões. Pensar e fazer críticas para se criar novidades, porque muitos indivíduos ou movimentos sociais partem de opiniões já formadas e buscam sem nenhum mérito um objetivo sem metas prejudicando a realidade e a moral.
A nova Ciência Social apontada por Boaventura visa buscar ou encaminhar a sociedade para eficiência de um pensar visando seus próprios benefícios através de várias alternativas que possam conduzir ao efeito esperado.
 Através do pensamento e da ação muitos benefícios já foram conquistados como a liberdade de expressão, direitos básicos, respeito digno, inclusive das diferenças, mas nem todo ser humano goza desses prazeres. Há muito que se fazer a respeito, muitas nações ainda têm suas vontades enjauladas dentro de si por viverem em territórios onde existem pessoas que impõem sua maneira de pensar e são obrigadas a agirem conforme pensamentos de outros.
Pensando mais especificamente se encontra diversos ambientes que predomina a coerção de pensamento como é o caso de religiões. A alienação de muitos dogmas limita o questionamento, induz a atitudes de terceiros e prejudica a formação de opinião individual.
Afinal, pensar é um privilégio enigmático do ser humano que dá a oportunidade de questionar, decidir e escolher boas maneiras, decifrar e planejar. Mas, infelizmente ao utilizar esse recurso de sobrevivência muitos deixam de fazer as análises e acabam por destruir a si próprios e os demais.    

Indicação da Obra

Conteúdo de fácil interpretação, coeso e envolvente que conduz o leitor a um estágio intenso de autocrítica quanto as suas maneiras de pensar, agir e opinar. Muito complexo, ainda que sem definição, propõe dicas e críticas válidas e muito concretas sobre o tema. Enfim, todos deveriam ter um pouco de ciência sobre esse assunto.

Sobre o Autor

 Boaventura de Sousa Santos é Professor Catedrático da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, Distinguished Legal Scholar da Faculdade de Direito da Universidade de Wisconsin-Madison e Global Legal Scholar da Universidade de Warwick. É igualmente Diretor do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, Diretor do Centro de Documentação 25 de Abril da mesma Universidade e Coordenador Científico do Observatório Permanente da Justiça Portuguesa.
Tem trabalhos publicados sobre globalização, sociologia do direito, epistemologia, democracia e direitos humanos. Os seus trabalhos encontram-se traduzidos em espanhol, inglês, italiano, francês e alemão.

Referências Bibliográficas

BYRNE, Rhonda. O Segredo. Tradução de Martins Alexandre, Marcos José da Cunha e Alice Xavier. Rio de Janeiro: Ediouro, 2007.
GAARDER, Josteim. O Mundo de Sofia. Cia das Letras: São Paulo, 1997.
GUNGOR, Ed. Muito Além do Segredo. São Paulo: Thomas Nelson Brasil, 2007.
SANTOS, Boaventura de Sousa. Seis razões para pensar. 54. Ed. Lua Nova, 2001.
SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do trabalho científico. 21. ed. rev. ampl. São Paulo: Cortez, 2000.

Bibliografias

DAWKINS, Richard. Deus, um delírio. Cia das Letras: São Paulo, 2006.
GOLEMAN, Daniel. Inteligência Emocional. Objetiva: São Paulo.           
HUNTER, C. James. O Monge e o Executivo: uma história sobre a essência da liderança. Tradução de Maria da Conceição Fornos Magalhães. Rio de Janeiro: Sextante, 2009.

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